O corpo gordo é excluído, invisibilizado, humilhado, inferiorizado. Na infância, as crianças gordas são ridicularizadas por isso. Há traumas, medos, inseguranças criados a partir dos outros. Pelo julgamento, pelo preconceito. Pela gordofobia. Aquela criança, que até ali não se enxergava diferente das demais, passa a ser “A Gorda”. E tudo dela, a partir de então, se resumirá a isso.
Além do preconceito, por toda sua vida, a pessoa gorda também tem de lidar com a falta de acesso a direitos básicos. Será excluída da educação, da saúde e, por muitas vezes, do trabalho formal. Resumindo: terá os seus direitos básicos, previstos na Constituição Federal, negados! Não terá roupas adequadas, não terá uma cadeira adequada, não terá um equipamento de saúde adequado para seu tamanho e peso. Passará uma vida buscando por dignidade.
Lutar como uma gorda tem sido enfrentar a gordofobia todos os dias das nossas vidas, em espaços que acreditávamos seguros, com pessoas que nos amavam, e nem por isso deixaram de ser gordofóbicos. É enfrentar olhares de nojo e reprovação, é ser desvalorizada intelectualmente por ser gorda, é ser confundida como mãe de nosses companheires por sermos gordas. É não entrar numa poltrona do ônibus, numa cadeira do restaurante, num banheiro público, é ter negado socialmente a felicidade, a humanidade e transformar tudo isso em militância, em arte, em (re)existência criativa.

POR ISSO LUTAMOS COMO UMA GORDA!
Acordar todos os dias preparada para comentários maldosos e pejorativos. Para não ser contratada para determinada vaga de emprego por conta do próprio corpo e, ainda assim, não esmorecer. É lutar, mesmo não se vendo representada na TV, nas redes sociais, mas não se calar para provar que seu corpo precisa de espaço. Lutar como uma gorda é quebrar padrões, preconceitos e estereótipos. É mostrar que gordes podem e devem fazer tudo!
Ser gorda é apenas uma característica entre tantas que temos. Somos pesquisadoras, professoras, filósofas, jornalistas, fãs de Beatles, escritoras, míopes, sonhadoras, altas, baixas, tatuadas, crentes, bruxas, ateias… É representar tantas e ver a sociedade insistir em resumir pessoas a seu tamanho.
E por que lutar? Porque corpos dissidentes do padrão não podem se dar ao luxo de parar de lutar contra as barreiras criadas e aperfeiçoadas pela sociedade. Então lutamos para nossa vida não ser esmagada. Lutamos para continuar existindo.
É fazer das dores que a exclusão nos causa, força revolucionária. Descobrir a potência do próprio corpo e viver resistindo nesse corpo gordo, como um ato ousado de desobediência sistemática. Enfrentando as estruturas de dominação, com um grito de rebeldia que confessa ser impossível tornar-se anticapitalista sem ser antigordofóbico. Lutar como uma gorda é “ternura radical”, nas palavras de Dani D’Emilia e Daniel B. Chávez, é acreditar no efeito político dos movimentos internos.
Lutar é ter em mente que não merecemos uma vida sem dignidade, sem respeito. Lutar para que não nos sejam negados direitos, acessibilidade e afetos. Lutar é dar as mãos para passar por essa vida junto a iguais, para não irmos sozinhos para a batalha cotidiana, é sentir que pertencemos. É encontrar em outras corpas gordas ternura, amor e cumplicidade, é construir ações coletivas, saberes coletivos, engordurar nossa existência. Lutar é não deixar que a esperança de dias dignos seja vã.
Curadoria do blog lute como uma gorda.