HOMENAGEM A TODAS AS MÃES GORDAS DO BRASIL!

Ser mãe gorda…

Por Marcela Brazão


A maternidade é mais do que mostram os comerciais das lojas no dia das mães. A beleza, a delícia, o amor de ter e criar filhos (quando você assim o deseja) é maravilhoso e indescritível, no entanto não é um conto de fadas ou um mundo cor-de-rosa. Ser mãe é extremamente cansativo, desafiador e complicado, impactando emocionalmente, socialmente, financeiramente e fisicamente na vida das mulheres. 

Como mãe gorda, é preciso falar que meu corpo também é parte da minha maternidade, já que afeta diretamente não só a mim, mas às minhas filhas. Uma grávida gorda é vista como uma “bomba-relógio” pelos médicos e precisa aguentar, além dos palpites rotineiros, os comentários gordofóbicos das pessoas ao redor. Mesmo quando finalmente a hora de ter o bebê se aproxima, é preciso lutar para ter o parto desejado de forma respeitosa, tendo ainda que se preocupar se o hospital terá a estrutura adequada para te atender. Pode acreditar que se alguma coisa sair do planejado, o seu peso será o culpado.

O nascimento do filho significa também lidar com o puerpério. Ninguém está preparado para essa fase da vida e, o pior de tudo, as mulheres ainda falam muito pouco sobre ele. É um momento de exaustão, melancolia e de não reconhecimento. Neste mesmo período, que não tem um prazo determinado para se encerrar, começam as recomendações alheias, ainda mais duras para as mulheres gordas, sugerindo aproveitar a amamentação para emagrecer ou, mesmo, fazer a dieta e o programa de exercícios da influencer da rede social. Que mãe recém-parida não sentiu a pressão externa de não esquecer sua feminilidade e tentar ao máximo se manter dentro de um conceito de “desejável”? Todas essas cobranças caem no seu colo juntamente com seu bebê e sua única pretensão é dormir um pouco mais.

Se tem uma verdade na maternidade, é que tudo passa. Os filhos vão crescendo e começam a frequentar a creche e as mães gordas têm seus próprios desafios, como as blusas de lembrancinha do dia das mães na creche que vão até o tamanho G, reuniões em mini cadeirinhas infantis, que claramente não sustentam seu peso e, caso seu filho não seja uma criança magrinha, ainda haverá acusação de estar seguindo o seu exemplo. Além disso, há os amiguinhos da escola e a descoberta da mãe como mulher gorda. É preciso desconstruir com os filhos a ideia ofensiva da palavra GORDA em um trabalho de formiguinha e diário, porque enquanto é apenas você ensinando sobre respeitar os corpos das pessoas, vários na rua estarão falando que o certo mesmo é ser magro. Assim, a maternidade impacta diretamente na sua própria visão e na sua relação com seu corpo porque se direcionar palavras de ódio ou demonstrar repúdio diante das crianças, irá apenas fortalecer a ideia que apenas alguns corpos são ideais para se amar, se divertir e se elogiar.

A chegada da puberdade e depois da adolescência, quando os amigos passam a ser a visão mais importante na vida do seu antigo bebê, o fantasma do corpo perfeito vai rondar a sua casa, especialmente se você, assim como eu, tiver filhas. A gordofobia não poupa nem as menininhas. É desejar que a sua garotinha não maltrate tanto o corpo dela como você fez na sua idade, buscando padrões inalcançáveis e dietas restritivas. É sonhar que ela e as outras meninas cresçam livres dessas amarras e tantas outras que nos enlaçaram no passado.

Acredito na ideia de deixar uma geração melhor para o planeta e na nossa evolução como sociedade, no entanto, não há gabaritos de como criar filhos. Tenho certeza que você, mãe, vai achar seu caminho e que será cheio de amor, força, percalços, aprendizados, ensinamentos e muito colo. Estamos e seguimos juntas!

Feliz dia das mães!


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Marcela Brazão nasceu em 1984 na cidade que reside até hoje: Niterói-RJ. Separada, feminista, leitora apaixonada, taurina e mãe de duas meninas. Quando se tornou adulta, percebeu que não se encaixava nas mocinhas dos livros e decidiu contar suas próprias histórias, repletas de dramas atuais e personagens comuns, com objetivo de gerar reflexões para o leitor de forma leve e descontraída, sempre com mulheres mais velhas e gordas como protagonistas. É autora de “POSITIVO” e de outros contos presentes nos livros: “Então, vem dia dos namorados”, “Meu Não Tão Querido Ex”, “Gordes” e “Te odeio mãe, com todo meu amor”. Todos disponíveis em formato ebook na Amazon. Contato: Instagram @escritoramarcelabrazao / email: [email protected]


Fotografias:

Thais Carla com suas filhas Maria e Eva,

Marcela Brazão mãe da Maria Eduarda e Juliana,

Natasha Mendes grávida da Agatha que nasceu por esses dias,

Débora Ambrósia mãe da Maria Vitória,

Rê Maldonado mãe do Juan Pablo e Odin,

Fernanda com seu filho Arthur Souza,

Letícia de Assis mãe do Caio,

Gabi Menezes mãe do Nicholas,

Raissa Corso mãe da Shantal.

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Poder transformar aquilo que te faz mal em algo criativo vem ao encontro de um trabalho do feminismo de aceitação e entendimento do próprio corpo, de muitas maneiras e buscas. Entender que as pessoas que te reprovam e não te aceitam são as que precisam de ajuda, pois se incomodam com algo e não sabem bem o porquê. “

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Este livro é resultado de sua pesquisa que teve origem em sua tese de doutorado, a qual propõe análises teóricas para investigar a estigmatização institucionalizada sob a qual os corpos gordos são colocados. Lute como uma gorda está disponível para venda e comprando por aqui você recebe uma dedicatória especial da autora