
A maioria das pessoas não entende e acha graça quando escutam a palavra gordofobia, existe uma confusão generalizada sobre o que, e como alguém pode falar de gente gorda sem ser um tabu, ou sem ser em piadas.
Falar numa mesa de bar: eu sou gorda e daí, sempre vem acompanhado de risos, indignação, conselhos e receitas de que você é tão linda, por que não faz um regime que emagrece.
Passar por constrangimentos quando você aceita seu corpo como ele está, ou é, pode parecer comum ou desinteressado, no entanto quando o indivíduo passa por essa humilhação inúmeras vezes, em inúmeras situações, comentários como esses, podem fazer da sua vida um grande filme de terror, no qual atitudes diárias, como por exemplo, se arrumar diante ao espelho, desencadeie pânicos, medos, muita depressão e sofrimento.
Entender o que significa ser gordofóbico ou o próprio conceito de gordofobia, numa sociedade onde a magreza é considerada como algo a ser alcançado a qualquer custo, pode se tornar uma busca bem confusa e longínqua.
Contudo, se você for gordo ou estiver gordo, perceberá logo em seguida ao pronunciar a palavra gordofobia que você já sofreu inúmeras vezes desse mal, a identificação com a estigmatização é imediata.
Opressão Estética e Gordofobia

Existe uma confusão generalizada do estigma, porque como a pressão estética social é muito grande, quando você fala sobre gordofobia, muitas pessoas confundem opressão estética com gordofobia.
Todos sofrem opressão estética, os gordos, magros, negros, loiros, altos, pois a padronização de beleza, nunca alcançada, passa por esse descontentamento com o próprio corpo, por isso ouvimos e vemos a palavra GORDA ser usada com tanto estigma, de maneiras pejorativas, sem o próprio entendimento do que a palavra representa de fato.
Para entender essa afirmação, pense na diferenciação entre as palavras gorda e magra. Magrela, magrinha, magrona. Gorda, gordinha, gordona. Pense!
Achar que sofre gordofobia porque foi a uma loja e a calça numero 44 não entrou, ou porque engordou dois quilos, ou ainda porque não tem a barriga chapada da novela não é gordofobia, é opressão estética.
Você como todos os humanos não está dentro do padrão estipulado pelas grandes mídias e por isso é oprimida esteticamente.
Sofrer gordofobia é algo muito mais grave, estrutural e de perda de direitos.
Gordofobia: estigma que sustenta a perda de direitos

Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, o conceito vai muita além do preconceito social, já que a gordofobia é uma questão de perda de direitos e é sobre essa perda constitucional que iremos conversar aqui.
A pessoa gorda perde direitos, garantidos pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, sobre o princípio constitucional de igualdade, perante a lei:
“Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”
Apoiada pelo estigma de preguiçoso, incompetente, feio, nojento, sujo, incapaz, etc, etc, etc. O corpo gordo, apoiado pela opinião mal formada da população perde seus direitos como indivíduo social.
Perde o direito de se sentar numa cadeira confortável no restaurante, cinema, barzinho, de passar sem constrangimentos numa catraca de ônibus, de comprar uma blusinha em qualquer loja do bairro, em ir ao médico tratar sua dor de cabeça e sair de lá com um diagnóstico de obesidade mórbida e um encaminhamento para bariátrica, de ir à academia e ver na sua ficha de exercícios que seu objetivo é emagrecer, sem nem mesmo ter conversado sobre isso com o professor que elaborou seu treino.
E, o pior, é que além de perder todos esses e muitos outros direitos garantidos por lei, ainda ser culpabilizado e desvalorizado socialmente por quem presencia essa falta de direito da pessoa gorda.
No avião, por exemplo, cada vez mais os assentos estão menores, quem anda de avião sabe disso, até porque é uma lógica capitalística de ganhar mais dinheiro e lucrar com mais lugares. Porém, quando o gordo não cabe, ou se cabe, o cinto não fecha, ou quando ele se manifesta por não caber, as pessoas se incomodam ao seu lado. Como se a culpa fosse da própria pessoa que está gorda e não dos assentos que não estão ali para todos os usuários, magros, gordos, altos, baixos, etc.
Estudos realizados pela OMS Organização Mundial da Saúde, mostram que em todo o mundo, há 2, 1 bilhões de pessoas acima do peso, o que representa quase 30% da população. O aumento da “obesidade” nas últimas três décadas ocorreu em todas as regiões do mundo, representando um problema de saúde pública em países ricos e pobres.
“A obesidade afeta pessoas de todas as idades e renda”, diz Christopher Murray, diretor do IHME(Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde). “Nas últimas três décadas, nenhum país teve sucesso na redução de suas taxas. O problema deve crescer nos países pobres, se medidas urgentes não forem tomadas para combater essa crise de saúde pública.”
Estudo publicado na revista científica Lancet (2014) mostra que um quinto da população brasileira adulta, ou quase 30 milhões de pessoas, é obesa, um quinto da população brasileira adulta, ou quase 30 milhões de pessoas. O número é maior entre as mulheres: 23% delas, ou 18 milhões, eram obesas em 2014. Entre os homens, o índice é de 17% (11,9 milhões).
Segundo pesquisas apresentadas pela BBC (British Broadcasting Corporation), os números colocam o Brasil entre os países mais obesos do mundo. Entre os homens, só fica atrás de China e EUA; entre as mulheres o Brasil fica em 5º, atrás também de Rússia e Índia. A comparação é feita em números absolutos e todos os países listados estão entre os mais populosos do planeta.
Portanto, nós gordos somos muitos e NADA que é publico ou privado está adaptado para o tamanho dessa população, você deve pagar, e pagar muito caro para poder usufruir de espaços reservados para TODOS.
São inúmeros casos de pessoas gordas que morrem com doenças fatais, por não serem diagnosticadas a tempo no consultório médico. Já que, um gordo quando entra no médico para reclamar de qualquer dor ou sintoma que sente, automaticamente é diagnosticado como obeso e deve urgentemente emagrecer. Piorando assim, a doença que pode ser fatal e o indivíduo vir a falecer.
Estar gordo não necessariamente é sinônimo de doença
Associar uma pessoa gorda a uma pessoa doente é uma manifestação gordofóbica. Portanto, não é porque alguém foi diagnosticado obeso que está doente, qual é a doença obesidade? Estar acima do peso?
Pode, segundo a medicina, que a pessoa obesa desenvolva algumas complicações e doenças no seu corpo pelo excesso de peso. Mas qualquer pessoa sedentária, que se alimenta mal, dorme mal ou que vive em regimes malucos restritivos, pode desenvolver alguma complicação ou doença. Aliás, basta estar vivo para poder ficar doente. Quem nunca?
Gordofobia vai muito além do preconceito

É disso que se trata a gordofobia, de ser diagnosticado como doente, mesmo quando você não fez nenhum exame que diagnosticasse algum problema.
É disso que se trata a gordofobia, de não caber na sociedade porque tudo é feito para lucrar e não para caber.
É disso que trata a gordofobia, de não poder dizer para as pessoas que você é o que é: GORDO.
É disso que trata a gordofobia, de pessoas gordas serem muitos na população e mesmo assim, serem estigmatizadas, de que a culpa de não ter loja com roupas do seu tamanho é sua.
É disso que trata a gordofobia, de morrer de uma doença real por ter sido diagnostica com uma doença que nem existia ainda.
Gordofobia é um preconceito, muito mais grave do que você imagina, desencadeia situações constrangedoras e humilhantes, mas principalmente elimina direitos sociais a aqueles que são considerados pela sociedade como incapazes. A Gordofobia é uma questão de perda de direitos.
Texto: Maria Luisa Jimenez Jimenez
Texto publicado TODASFRIDAS em 2018.
Imagens: internet