Sou nesse momento uma mistura de sentimentos como felicidade e gratidão, o que me deixa um tanto eufórica por estar ao lado de pessoas tão incríveis, companheires de luta contra a Gordofobia.
Gostaria de me apresentar e falar um pouco sobre a minha trajetória e como fui me firmando enquanto Fotógrafa Autoral e Artista Gorda.
Pra começar, carinhosamente me considero “soteropaulistana”; Nascida em Salvador na Bahia onde desenvolvi toda a minha infância, adolescência e início da vida adulta e logo depois me tornei “cria” de São Paulo. Cidade que me acolheu e onde desenvolvi a minha vida adulta e profissional. Amo essas duas cidades e cada uma delas está em mim assim como estou nelas. Me auto intitule fotógrafa instintiva.
Descobri minha paixão pela fotografia muito cedo, e fui me profissionalizando no decorrer de minha caminhada. Sou graduada em Comunicação Social e toda a minha experiência profissional vem da Arte. A minha trajetória foi marcada por atuações na assessoria de imprensa (área cultural), no cinema e experiências na dança e no teatro, aprendizados que foram essenciais na construção de meu trabalho autoral na Direção de Arte e Fotografia.
Não é fácil trabalhar com Arte no Brasil, muito menos quando você faz ArteAtivismo. Somado a isso ainda tem algumas questões que me colocam fora de uma contexto tido como esperado: sou mulher não binária (transito entre gêneros), madura, gorda, tatuada, cuja estética já foi motivo de ter sido negado vaga de trabalho, mesmo quando minha experiência e curriculum falavam o contrário.
O meu trabalho autoral nasceu enquanto diário. Foi falando sobre mim, sobre minha corpa, suas questões e transformações; corpa de uma pessoa gorde e em processo de maturação. O meu repertório narrativo se caracteriza fundamentalmente por uma linguagem teatral que tenta falar através de um olhar que compartilha dores e sabores de ser uma corpa gorde contando histórias e abrindo diálogos. Tudo isso através de uma fotografia crua, com edições simples e sem manipulações de imagem ( retoques de
pele e corpo, por exemplo).
Sempre estive, de alguma forma, fora de padrões de comportamento e estética. Sempre fui diferente. Transgressora por natureza, militante feminista e gorda fui aprendendo a resistir pra existir. Meu olhar sobre mim foi se encorajando e se enchendo de amor pelo que via, me libertando da talvez única padronização que mais me boicotou ao longo da minha vida: a busca pelo corpo perfeito e tido como normal. E esse olhar foi ficando cada vez mais livre, corajoso e mais e mais amoroso comigo e com outras possibilidades corpóreas. Precisava falar sobre isso. Precisava buscar nossos espaços por direito: UMA FOTÓGRAFA GORDA UTILIZANDO SUA VIVÊNCIA ATRELADA A DE OUTRAS PESSOAS COMO MANIFESTO SOCIAL . A minha Arte sangra, ela não fala mais, ela grita; Ela clama por respeito de ser e existir. Direito humano que por muito tempo nos foi negado.
Reflexões sobre não somente pressão estética, mas primordialmente sobre Gordofobia. Mal social que cala, escraviza, exclui e mata. São falas a partir de uma lugar muito pessoal, íntimo e verdadeiro. Poder conversar a partir das minhas imagens, que surgem através das minhas vivências e das vivências delas, manifestar tudo isso em forma de poesia nos empodera. Confirmamos que existe Poesia em sermos nós mesmos sem firulas. Sendo a única firula permitida: a licença poética em como essa manifestação se dá.
A Fotografia se torna aqui um documento incontestável de pura verdade parido por uma pessoa gorda dando as mãos a outras tantas pessoas gordes. Hoje a minha busca através da Arte é quebrar gaiolas como Artista gorda cansada de ter seu espaço negado. Desenvolvo uma fotografia a serviço de uma causa. Fotografia carregada de mim, das minhas paixões poéticas, dramáticas, doloridas no branco e preto e coloridas, afinal sou múltipla e me reinvento a todo instante.
Pelo direito e respeito de sermos que somos!
A V A N T E!