Qual MULHER? A que leva seus filhos pra escola, dá banho, lava roupa, trabalha, faz comida, chora escondido, é perseguida na rua, sofre no transporte público? Sofre à noite quando ela não quer, mas você quer?
Qual MULHER? A que não faz o estilo do corpo padrão? Que é gorda? Não entra na cadeira? Não cabe na roleta e não serve pro seu tesão?
Qual MULHER? A que não quer emagrecer e manda todo mundo se fudê? A que não quer ver TV, quer ler e entender? A que se manifesta? Diz pra não ser interrompida e briga com você?
Qual MULHER? A que viaja sozinha? Morre de medo de rua escura? Luta por seus direitos, mas já apanhou na rua?
Qual é a mulher que vocês comemoram?
Não quero comemorar enquanto TODAS não sejamos livres, as que vocês domesticaram e as rebeldes, bruxas e loucas que lutam contra essa amarração que se chama perseguição, patriarcado, heteronormatividade e um monte de invenção.
Não tem de rimar não, tem é que amar, proteger, cuidar, mas também tem que ouvir, deixar escolher o que ela quer para seu corpo, vida, carreira, caminhada e poder falar palavrão, gritar, amar e não pedir perdão!
Será que você comemora as milhões de mulheres que morrem por violência machista! Nas milhões de mulheres gordas que são humilhadas diariamente, por terem um corpo que esse sistema não aceita e cruelmente mata, uma a uma, desde suas infâncias, em suas escolas, bairros e famílias?
Eu não quero comemorar
Eu quero lutar
Eu quero sanar
Eu quero me amar
Eu quero viver
Eu quero ser livre
Pra nunca mais sofrer!
Malu Jimenez
Escrevo esse poema/grito porque quero dizer coisas que a língua canônica portuguesa, careta e cheia de regras machistas e coloniais não me deixa gritar: vai se fudê!
Estamos na semana do Dia Internacional das Mulheres (8 de março) e o Lute Como Uma Gorda faz questão de trazer publicações diárias até sexta-feira para que marquemos essa data-símbolo daquelas que lutam desde tempos imemoriais por mais que nos silenciem, por mais que nos censurem, nos bloqueiem, nos excluam, especialmente quando incomodamos a positividade tóxica, masculina, especialmente quando bagunçamos o coro dos contentes.