Nas estórias do meu corpo com os afetos, somam-se (des)encontros. Me lembro de versões minhas antigas, que quando apaixonadas por alguém entoavam em silêncio, como quem faz oração: tomara que meu corpo não seja um problema.
Tomara que o formato dos meus seios não seja um problema, que o contorno da minha barriga não seja impedimento, que minhas pernas não sejam grandes demais, moles demais. Foram tantos pactos malucos de emagrecimento comigo mesma, verdadeiras promessas em busca de redenção.
“Se eu emagrecer 40 quilos, vou ser amada, aí sim serei digna de alguma coisa.”
Demorei muitas dores e pessoas para perceber que de libertador a magreza não tinha nada.
Hoje minha redenção é acreditar que não nasci pra ser tolerada. Em matéria de locução prepositiva, meu corpo jamais será um “apesar de”. Eu sou “graças a”. Tudo que sou, sou graças a esse corpo que chamo de lar.
Não existo pra ser tolerada.
Muito menos engolida, forçada goela abaixo.
Nasci pra provar da vida, degustá-la em sua doçura e inteireza (pois sim, já me encontrei com os amargores).
Portanto, não me tolere, me encontre.
Não me tolere, me aprecie.
Não me tolere, me comemore.
Não me tolere porque não sou obrigação. Sou escolha. Sou prazer.
Texto de Gabriela Lacerda

Gorda menor. 24 anos capricornianos. Umbandista. Humana de um gato chamado Fubá, feminista e taróloga (@tarotnaofazmilagre). Uma das idealizadoras do Ciclo Mexerica (@ciclomexerica), Grupo de Estudos sobre Corporalidades Gordes, Afetos e Resistência, que surgiu após a primeira turma do curso #InsurgênciasGordas. Pesquisa sobre pressão estética e gordofobia, é Bacharela em Direito e Mestranda em Direitos e Garantias Fundamentais. @quequefoi_gabriela nas redes