Dia Mundial da Atividade Física

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Hoje, 6 de abril é comemorado o Dia Mundial da Atividade Física. Nós, integrantes da gordosfera, sabemos que exercícios físicos e gordos não podiam ser empregados na mesma frase, a não ser, é claro, quando se tratava de emagrecimento.
Academias, clubes, pistas de caminhada, centros de treinamentos sempre foram lugares hostis e perversos onde gordos eram e são excluídos e humilhados.
Com o poder do autoconhecimento, ativismo, estudos e muita militância, estamos conquistando espaços e lugares de fala. Entre as personalidades do ativismo gordo que abordam temáticas relacionadas à prática de atividades física, estão Vanessa Joda e Natália Mota, ambas gordas e praticantes de exercícios físicos. Mulheres gordas, fortes e que lutam diariamente para levar a atividade para todos os tipos de corpos.
Iremos começar falando de Vanessa Joda, ou Van, como prefere ser chamada. Van tem 41 anos e encontrou na prática de yoga uma forma de se conhecer e se reconectar com ela mesma. Em 2012, recebeu um convite de um colega para ir até o Sesc participar de uma aula, mas na época achou um absurdo. “A yoga é um lugar elitista, normativo. Nunca havia visto um corpo gordo praticando. Quando recebi o convite fiquei meio receosa”, contou.
Por sorte ou até mesmo obrigação, a professora que deu a aula nesse dia foi super acolhedora, o que possibilitou que Van se sentisse confortável. “Eu consegui fazer toda a aula. Naquele dia me reencontrei e me apaixonei pela yoga”.
Como muitas crianças gordas, Van também foi humilhada pela família e, por isso, começou a praticar atividades físicas com um único objetivo: emagrecer. Do vôlei ao handebol, do basquete à natação. A menina (na época) passava o dia todo se “matando” nos exercícios. “Eu sempre liguei a atividade física para emagrecer. Minha mãe e meu irmão falavam que eu podia ser tudo, menos gorda. Eu tinha uns 3 anos”.
Joda fez todo esse esforço para emagrecer, para conquistar um padrão que foi imposto pela sociedade há muito tempo e que infelizmente até hoje não foi quebrado. “Eu não gostava de nenhuma atividade, eu comecei a fazer só pelo intuito de emagrecer”.
Após conhecer a yoga e todo a filosofia da prática, as coisas mudaram, “eu tive que ressignificar de não ligar a atividade física ao emagrecimento. A própria yoga me ajudou a ressignificar. A partir do momento que me entendi como mulher gorda, que meu corpo era esse, que eu não precisava emagrecer, pois era saudável, a primeira atividade que comecei a fazer porque gosto muito foi a yoga”.
Em dezembro de 2020, Van começou a cursar educação física, a segunda graduação dela. Juntamente com a também ativista gorda Ellen Valias, as duas precisaram se unir para quebrar o preconceito da turma da faculdade. Mesmo a modalidade sendo EAD, os discursos de ódio e gordofobia estiveram presentes. Em uma palestra sobre musculatura, os colegas começaram a destilar comentários preconceituosos, mas Van e Ellen não deixaram barato. “Nós duas entramos fortemente nos comentários e começamos a discutir. Conclusão: conseguimos uma palestra sobre gordofobia para a faculdade. Vamos ver se vai sair, né?”, indagou a professora de yoga.
O que também choca no âmbito da graduação é que os próprios professores e profissionais da educação física não sabem o que é a gordofobia, sendo assim, como irão ensinar os alunos a quebrar essa barreira?
Van é persistente e não abaixa a cabeça, “eu acho que estamos na faculdade como resistência, como questionadoras para indagar esse sistema que é totalmente gordofóbico. Eu acho que nem os meus professores sabem o que é gordofobia”, relatou.
Professora de yoga há mais de cinco anos, Joda precisou se adaptar a pandemia do corona vírus e começou a dar aulas online. Além disso, possui um perfil no Instagram em que incentiva a prática da atividade física. “@yogaparatodes” surgiu como forma de resistir, enfrentar e incentivar a todos a se conhecerem e se permitirem praticar exercícios. “A yoga precisa ser um lugar acolhedor e todos os lugares que eu pratiquei na minha vida não tinham pessoas gordas, pretas, com deficiência, trans. Então o projeto surgiu como forma de ser um lugar seguro para todas as pessoas que queiram praticar. Para corpos não normativos poderem praticar, todos podem praticar” finalizou a professora.
Outro perfil que tem se destacado nas redes sociais é o @saudegg, administrado pela educadora física Natália Mota, carioca de 36 anos.
Natália começou a prática de atividades físicas muito nova, aos três anos já fazia ballet, mas com a inocência de uma criança, de ser lazer e não uma obrigação. Durante a adolescência, a vivência de pessoas gordas na sociedade é muito difícil, pois, é quando a pressão por um corpo perfeito vem mais forte e foi por esse motivo que a carioca procurou a academia. “Na adolescência eu já sabia que exercícios físicos eram importantes pra saúde, mas eu pedi pra minha mãe pra entrar pra academia aos 16 porque queria emagrecer. Só fui parar de associar emagrecimento a exercícios depois de adulta”, contou.
Essa é outra questão que demora para ser resolvida, a dissociação entre exercícios físicos e emagrecimento. Alguns profissionais da área da nutrição e da própria educação física incentivam o exercício apenas como forma de emagrecer e não pelos benefícios que ele proporciona.
Durante a graduação em educação física, Natália precisou mudar de área, pois as pessoas não acreditam na competência dela devido ao corpo. “A maioria das pessoas espera que profissionais de educação física tenham um corpo padrão, atlético, magro e musculoso. Eu era/sou diferente e por ser assim não atraía alunas(os) novas(os). Eu cheguei a mudar da minha área de preferência, que é academia, pra trabalhar em escolas com crianças porque não era uma profissional valorizada. Uma vez falaram bem alto pra eu ouvir que profissionais de educação física têm que dar exemplo e que jamais contrataria um profissional gordinho”, relembrou ela.
Apesar do preconceito social, Natália não desistiu e se formou, e durante essa trajetória se apossou do Instagram como forma de auxiliar outras pessoas gordas a se exercitarem. A criação do @saudegg veio justamente para unir pessoas gordas e atividades físicas em um formato acolhedor e cheio de amor. “Eu resolvi ajudar pessoas gordas como eu a se exercitarem pela saúde através de uma abordagem acolhedora.
Eu não sabia que conseguiria ajudar tantas pessoas e me sinto muito feliz e grata porque sei o que é ser uma pessoa gorda. Eu sinto na pele e sei o quanto precisamos de respeito e acolhimento”.
A melhor parte disso tudo foi o retorno que a educadora física recebeu. Com mais de 19 mil seguidores, ela conseguiu desmistificar os preconceitos entre corpos gordos e atividades físicas. “O retorno não tem preço, todo dia recebo mensagens de agradecimento pelo meu trabalho. Hoje mesmo eu me emocionei com uma aluna que falou que o meu trabalho fez com que ela parasse de sentir dores no corpo, de tomar remédios, de fazer fisioterapia, disse que mudei a vida dela! Nada paga isso! Eu sou só gratidão e amor por cada alune que entra na minha vida”
Precisamos ocupar lugares, precisamos ser respeitadxs, precisamos movimentar nossos corpos por amor e não ódio.
Corpos gordos existem e resistem.

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escrito por: Tamyres Sbrile
Tamyres Sbrile é jornalista, criadora de conteúdo, escritora e ativista. Ela aos 23 anos começou em 2019 produzir conteúdo no @itstamyres falando sobre amor próprio, autoconhecimento e gordofobia. Nascida e crescida em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, encontrou na internet uma maneira de ressignificar e entender questões como sendo uma mulher gorda. Usa as palavras para expressar sentimentos e vivências que marcaram a história dela.
