Maria Luisa Jimenez Jimenez, tem 47 anos, nasceu em São Paulo na Bela Vista, filha de espanhóis de uma família de quatro meninas, quando volta as memórias de quem foi, parece que sempre esteve gorda e feminista.
Estudou até a quinta série em colégio de freiras em Osasco, depois sempre estudou em escola pública, fez faculdade de filosofia na UNESP em Marília interior de São Paulo.
Só foi entender e gostar de estudar quando foi obrigada a parar de ir a escola durante sua adolescência, porque acompanhou seus pais que decidiram morar num retiro espiritual na baixada fluminense, no Rio de Janeiro.

Quando voltou a estudar depois de quatro anos, morando sozinha de novo em São Paulo, fez supletivo do ensino fundamental para seguir o Ensino Médio.
Explica que foi com essa volta para a escola, e com professores que ensinaram ela a pesquisar, ler e argumentar, que começou a gostar de estudar, ir a escola e usar os estudos para ter uma vida melhor. Já que teve que trabalhar em muitos empregos que pagavam mal, e não valorizavam os trabalhadores.
Fez Ensino Médio técnico em Secretariado no Ipiranga, e de novo teve professores que a ensinaram a pensar, desenvolver o senso crítico, e alí foi que decidiu junto a um professor de filosofia, que tinha sido preso político na ditadura e fazia parte do movimento Tortura Nunca Mais, decidiu o que queria estudar na Universidade: FILOSOFIA.
Com 23 anos, passou na UNESP e cursou filosofia, vivenciou a Faculdade como sua própria casa, desenvolveu projetos, foi bolsista, fez muito teatro e feminismo. Aprendeu a lutar por seus direitos, pois vivenciando o mundo acadêmico que entendeu que fazer uma Universidade Pública é direito universal, diz ela.
Viveu no litoral de São Paulo por 7 anos, dando aula de Filosofia e Sociologia em Escola Pública e Faculdade Privada, quando resolveu voltar a estudar e ir para Espanha tentar fazer uma pós graduação.
Morou na Espanha em Granada, sul do país, na terra de seus pais, onde homologou seu título de filosofia.
Conheceu a Antropologia Filosófica, se apaixonou, entrando no doutorado em Antropologia Cultural na Universidad de Granada para estudar juventude indígena.
Voltou para o Brasil, Cuiabá, Mato Grosso para estudar os jovens bororos, conheceu a cidade que móra hoje Chapada dos Guimarães, se apaixonou e está lá até hoje.

Passou por vários problemas pessoais e foi obrigada a trancar o doutorado, sem dinheiro, não conseguiu retornar aos estudos.
Na Espanha ao contrário daqui, a Universidade Pública cobra matrículas caríssimas e naquele momento não tinha como pagar.
Foi quando decidiu fazer mestrado num Programa sobre Estudos de Cultura Contemporânea, o ECCO na Universidade Federal do Mato Grosso.
Assim, que no Programa de Pós Graduação sobre Estudos da Cultura e transdisciplinar foi que a filósofa fez seu Mestrado, pesquisando as trabalhadoras domésticas em Chapada dos Guimarães, através da alimentação e seus cotidianos nas casas das patroas e em suas próprias casas. Essa pesquisa virou livro, Domésticas: Cotidianos na comensalidade.

No processo de pesquisa com as mulheres, foi que a professora começou a encontrar muitas falas sobre gordofobia, pressão estética, a preocupação em emagrecer, tanto nas falas das trabalhadoras como das patroas.
Por ser gorda e sempre estar atenta a esses temas, começou a pesquisar por conta própria e em paralelo, ao fim do mestrado o tema da gordofobia, decidindo propor como Projeto de Pesquisa para o Doutorado.
Ela foi aprovada e está envolvida nessas pesquisas sobre o copo gordo feminino desde 2015, um ano antes de entrar no doutorado, já estava pesquisando a temática. Foi amor a primeira pensada sobre o assunto, explica
Professora pesquisadora filósofa, feminista, artista e ativista gorda, é assim que se reconhece no mundo.

Malu, como é chamada por todos, sempre sentiu um incomôdo grande desde sua graduação, percebendo que muitos temas interessantes e importantes para a sociedade, quase sempre, nunca saem dos muros da Universidade Pública.
Foi então, que em 2017 e à partir de depoimentos de suas pesquisas, começou a sentir uma necessidade enorme e urgente em levar para fora da Academia a discussão sobre a Gordofobia com os Corpos Gordos Femininos, sobre o ativismo gordo e o feminismo, essa vontade se tornara uma questão de necessidade urgente.
Pensou muitas maneiras de organizar um Projeto Ação, como essas pesquisas poderiam chegar na comunidade de maneira afetiva, esclarecedora, afetando as pessoas para um outro olhar sobre o corpo gordo.
Somente no começo de 2019, com um reencontro potencializador entre mulheres, e pedido de ajuda da filósofa a uma amiga também gorda em Cuiabá, Ivana Guimarães, amizade essa construida dentro da Universidade, que o Projeto tomou forma e começou a acontecer.

Juntas, começaram a pensar sobre como efetivar todas as ideias e ações que a tempos a professora vinha rascunhando. Pensaram em um nome, com a ajuda de uma amiga, pensando Malu chegou ao nome, \”e, se fizessemos uma paródia ao \”LUTE COMO UMA GORDA!\”, é tanta luta, porque não? Porque já carrega uma ideia subliminar da luta feminista\”.
Assim nasceu o PROJETO que segundo a idealizadora mudou sua vidae e de tudo que esta ao seu redor, ela explica que sua pesquisa de doutorado mudou sua maneira de ser no mundo, mas sua vida também mudou sua pesquisa.
Conta, que sua tese tem pretensões de virar livro e vai se intitular com o nome desse projeto que emociona quando a gente participa, ouve e se deixa afectar.
Sua tese, que vai ser apresentada para qualificação da banca em setembro, já leva o nome:
\”Lute como uma gorda: gordofobia, ativismo e resistência.\”
